segunda-feira, dezembro 19, 2005 

Legalize?

São muitos e variados os temas que provocam inflamadas discussões na nossa sociedade. A pesca da garoupa, o aborto, o torneio de sueca da Amadora, a fome no mundo, entre outros. Mas parece-nos que certos e determinados temas, de igual ou superior importância, são esquecidos de forma imperdoável. Referimo-nos a questões como a descarga de excrecções de suínos em rios e a legalização das drogas leves. É precisamente este último tema que mais nos preocupa, mas, ao contrário da maior parte da sociedade, não é a questão do ser legal ou ilegal consumir que mais nos preocupa. Vivemos numa sociedade fortemente consumista, e com a crescente modernização e surgimento das grandes superfícies comerciais, cada vez mais as pessoas optam por estes locais para fazerem as suas compras. Ora, este facto prejudica gravemente o comércio tradicional, que se encontra num crescente estado de declínio. Neste contexto, preocupa-nos extremamente a legalização das drogas leves, já que a venda da droga se trata actualmente de um dos últimos redutos deste tipo de comércio. Com a legalização acabaria o contacto pessoal com o dealer, com o qual já se tem uma relação de amizade e companheirismo. Não haveria mais o atendimento personalizado, com os habituais "Leve desta Sr.Jacinta, que chegou mesmo há pouco e é fresquinha!" e "Essa não lhe aconselho Dr. Martins, não é da melhor" ou mesmo "Tinha aqui esta mesmo guardadinha para si!". Ahh, esta relação tem algo de digno e bonito. Mesmo depois de pensarmos nesta grande perda que a legalização das drogas leves iria provocar, resolvemos manter uma posição imparcial e analisar as vantagens da legalização. E após algum tempo de exaustiva reflexão e raciocínio lá as encontrámos. Por um lado, embora o dealer seja supostamente alguém de confiança, por vezes este engana o ingénuo cliente. Não são raras as ocasiões em que farinha de trigo para culinária é vendida como cocaína e estrume biológico como ganza. Deprimente. Mas a legalização da droga vai igualmente abrir portas a um novo tipo de convívio social, tornando as farmácias (locais mais prováveis de venda dos ditos narcóticos) santuários da trocas de experiências de vida. Imaginem só. Reunir no mesmo espaço velhas a irem comprar os seus medicamentos para o reumatismo, senhoras a irem comprar testes de gravidez, homens a irem buscar o seu viagra e pessoal a ir buscar a sua dose. Enquanto aguardavam a sua vez na fila de espera, iriam ocorrer interessantes discussões acerca de temas diversos como a artrite reumatóide , a droga que dá a melhor moca, a disfunção eréctil...Que forma sublime de juntar as várias gerações, com problemas tão diferentes, no mesmo local. Mas todo esta afluência a estes estabelecimentos iria provocar a necessidade de aumentar o número de farmácias. Isto porquê? Ao reunir-se num espaço pequeno um grande número de pessoas, muitas das quais doentes, paradas à espera da sua vez, origina-se o famoso síndrome de autocarro cheio, cujos sintomas são: cheiro desagradável não identificável, velhas a tossirem a 10 cm de nós, estarmos entalados entre duas pessoas cheias de suor que não conhecemos de nenhum lado. Nada agradável. Mas quem iria lucrar com o aumento do número de farmácias seria o governo, pois todos sabemos que no comércio tradicional há sempre aquela esquiva inocente aos impostos. É triste, mas muitos dealers, contra todas as directivas do Sindicato Nacional de Dealers (SND), não declaram muitos dos seus rendimentos à Segurança Social, e a fiscalização não é muito intensa. Nas farmácias já não seria assim. Ficámos então divididos entre a defesa do comércio tradicional e o estímulo das trocas culturais e a entrada de dinheiro por parte dos impostos. Sempre nos questionámos sobre qual seria a melhor resposta para esta questão, que nos atormenta e angustia quase tanto como quando soubemos que os Delfins tinham lançado um novo DVD. Concluimos então que apenas alguém com experiência no mundo da droga, um conhecedor do assunto, poderia falar sobre este tema (isto tendo em conta que a nossa experiência com drogas se limita a aspirinas e pouco mais). Pensámos então: quem melhor que os nossos leitores? Apenas alguém profundamente afectado por drogas e narcóticos poderia perder tempo a ler este blog. Pedimos então a vossa opinião que esperamos com ansiedade.
Com os sinceros cumprimentos,
LordMaster & Freemantle